Neopets é uma verdadeira abominação maximalista, uma escola de game design que não sempre me cativa, mas nesse caso, sim, e acima de tudo, me fascina como poucos videojogos.

Ao menos da última vez que o joguei, Neopets me remetia menos a um jogo e mais a ruínas de uma civilização que não existia mais, seus jogos em flash estavam quebrados e seus direitos autorais pingue-pongueavam de mão em mão, entre grupos sketchy e mais sketchy; era como uma fila de trambiqueiros, um tentando convencer o próximo na fila de que ainda dava para arrancar algum dinheiro com os órgãos daquele cadáver que já estava definhando há mais de dez anos.

E como alguém que jogou Neopets durante sua infância e sua adolescência, em cada umas passadas que dei no site pós vida adulta, um único pensamento pipocava em minha cabeça: "Essa porra deveria estar morta".

Ser comprado e vendido pela Nickelodeon, cientologia, morte do Adobe Flash Player, NFTs, o enfraquecimento de jogos de browser, o fato de que esta merda parece um buraco negro que suga dinheiro de seus donos; nada disso derrubou Neopets.

De alguma forma, por mais inconstantes, os sinais de vida estavam lá, os espasmos, por mais que parecessem rigor mortis, me remetiam mais a um aceno, puxando memórias dos meus antigos pets virtuais, os pets virtuais deles, os pets virtuais dos pets virtuais deles, a copa e o plot de Altador, aquela roda podre que girava por horas e horas, o omelete gigante de Tyrannia, o mercado de ações, as toneladas de minigames temáticos, os troféus para cada um desses minigames temáticos, cada loja de cada jogador que existia, a inacessível Ilha Lutari, os mapas do tesouro, pincéis, as interações com o horário de Neopia sempre presente em um canto da tela e PUTA QUE PARIU.

Neopets ter existido sequer uma vez é como um milagre irreplicável, o site estar vivo pode beirar o incompreensível, mas quando memórias de adotar um Grundo passam pela minha cabeça numa madrugada de terça para quarta, checo e garanto que o resta desta besta ainda pisca e respira, não me vejo no direito de pedir por muito mais de quem hoje deveria existir como uma mera memória.

Francamente, nem acho que quero, a resiliência para manter-se viva nesse estado já é algo que não invejo, então eu aceito de bom grado.

ah e vai ter um crossover com habbo hotel afinal por que não nada mais é sagrado